Não sou muito de ver televisão – ainda mais que só disponho da tv aberta, quase sem opção – mas às vezes assisto a MTV, algum filme na Globo e a TV Cultura, que é a que mais vejo, já que ali estão os estilos de programas dos que mais gosto: Entrevistas, debates, literatura e filmes fora de ‘catálogo’. Num desses programas, o Letra Livre, apresentado pelo Manuel da Costa Pinto, tivemos uma troca de idéias com o médico e escritor Moacyr Scliar, e, recebendo de um uruguaio(eu acho), em certa ocasião, uma pergunta (por que no Brasil, que é um país tão alegre, há uma literatura tão negativa?), disse que não soube responder muito bem, mas também achava a literatura brasileira atual muito mal-humorada, e que ele não lê livro chato, recomendando o mesmo aos seus leitores.
Respeito essa opinião, mas decerto não entendo essa designação de livro chato, muito menos imagino como alguém pode julgar um livro como ‘chato’ sem lê-lo. Mas vou tentar uma interpretação: talvez o que Moacyr Scliar tenha se referido aos livros cujo tema é o lado negativo de nossa sociedade. Aqueles livros que, vendo na literatura uma maneira de denúncia e de revelação da realidade, acabam por apresentá-la nas suas mazelas e contradições com certo pessimismo. Com uma espécie de no future na literatura.
Sinceramente, acho sim que é possível se fazer essa literatura realista com certo humor – através da ironia e sarcasmo, por exemplo. Mas não acho que o gênero de livro que citei seja chato. Tampouco vejo alguma contradição entre o fato de o Brasil ser um povo alegre e essa literatura. Afinal, como disse Renato Russo (e li, certa vez, em uma biografia do): “Aqui no Brasil, nós somos alegres, mas não somos felizes. Existem toda uma melancolia e uma saudade que a gente herdou dos portugueses e ainda não conseguimos resolver” (in Renato Russo de A a Z. Campo Grande – MS, ed. Letra livre, 2000, p. 167).
De fato, creio que a imagem de alegres se dá pela fama do carnaval, festas tradicionais, mídias em geral, e que somos alegres sim, mas como forma de disfarçar uma tristeza que há por trás, para justificar isso, uso um ditado do próprio povo: “é rir pra não chorar”.
Tristeza ignorada talvez, por aqueles que já se resolveram individualmente e não têm esforço nenhum para pensar no coletivo, mas reforçada pela nossa – ainda – situação de terceiro mundo.
Esse mau humor é necessário de certa forma. Acho que todos temos que ter um pouco de Holden Caulfield pra não cair no comodismo. Aliás: por que mau humor? só porque não é "alegre"? chatice é algo relativo. Ou então vamos passar a considerar tudo aquilo que não é dança do créu como sendo chato?
Eu não.